(imagem do Blog da Julieta)
Dezembro é um mês frenético, mas
Caio não costuma ser contaminado pelas agitações comerciais ou festivas.
Incomoda-se um pouco com o agravamento das confusões no trânsito e, nessas
horas, se alegra de ter escolhido viver no sul, deixando o ruído contínuo de
São Paulo como uma lembrança embaçada.
A resposta cheia de sutilezas e ordens
disfarçadas de sugestões que recebeu do gerente Vitor o fez pensar na
discrepância de estilos que grassava na Hyper Books e achou isso interessante.
Um pequeno retrato do mundo, como costumam ser as organizações. Para não
desprezar de todo o uso das tais iniciais, pensou em estantes cujas laterais
incorporassem o monograma – chapas de compensando cortado a jato d’água seriam
ideais para obter o efeito desejado.
Gastou a terça-feira sobre a mesa
de trabalho, terminando os esboços em papel antes de passar para algum dos
aficionados por tecnologia que estagiava no escritório fazer a edição no
computador. Quando saiu do escritório, já no meio da quadra, voltou-se e
contemplou o sobrado charmoso de janelas verdes que já se tornara referência no
cenário da arquitetura regional e lembrou-se do tempo em que a insegurança o
fazia temer pelo futuro. Nos tempos de estudante, quando caminhava pelas ruas
arborizadas do bairro onde alugou o imóvel comercial e onde tem seu apartamento,
não cogitava a possibilidade de transitar por ali, considerando aquela condição
social acima de suas expectativas. Quase vinte anos mudaram drasticamente sua
forma de ver o lugar e suas pretensões.
Antes de visitar o sebo no centro da cidade, onde pretendia buscar inspiração para o café solicitado pelo gerente de RH, parou no Parcão para aproveitar a sombra e um banco solitário com vista para a agitação dos que passavam por ali. Não tardou a aparecer uma velhinha simpática que pediu licença para partilhar o banco com ele. O sotaque carregado indicava duas possibilidades, ou vinha de alguma das colônias alemãs do interior do estado ou era mesmo estrangeira. Disposto a não se preocupar com o relógio, Caio contrariou o usual recolhimento e puxou conversa. Renie, um pouco constrangida, disso no pouco português de que dispunha, estar de passagem pela cidade, conhecendo as áreas verdes e os museus.
Caio sentiu-se à vontade para contar os planos da tarde para Aunt Renie. Encontrar alguém que falasse inglês a fez sentir-se animada e a senhora manifestou interesse em visitar o sebo com o novo amigo assim que soube que ficava próximo de outro parque da cidade. Quando deu por si, Caio estava recebendo sugestões para o projeto da livraria e convidando a estrangeira desconhecida para conhecer seu escritório e precisou se esforçar para não convidá-la a se hospedar em seu apartamento.
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