terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Diferenças


(imagem do Blog da Julieta)

Dezembro é um mês frenético, mas Caio não costuma ser contaminado pelas agitações comerciais ou festivas. Incomoda-se um pouco com o agravamento das confusões no trânsito e, nessas horas, se alegra de ter escolhido viver no sul, deixando o ruído contínuo de São Paulo como uma lembrança embaçada. 

A resposta cheia de sutilezas e ordens disfarçadas de sugestões que recebeu do gerente Vitor o fez pensar na discrepância de estilos que grassava na Hyper Books e achou isso interessante. Um pequeno retrato do mundo, como costumam ser as organizações. Para não desprezar de todo o uso das tais iniciais, pensou em estantes cujas laterais incorporassem o monograma – chapas de compensando cortado a jato d’água seriam ideais para obter o efeito desejado.


Gastou a terça-feira sobre a mesa de trabalho, terminando os esboços em papel antes de passar para algum dos aficionados por tecnologia que estagiava no escritório fazer a edição no computador. Quando saiu do escritório, já no meio da quadra, voltou-se e contemplou o sobrado charmoso de janelas verdes que já se tornara referência no cenário da arquitetura regional e lembrou-se do tempo em que a insegurança o fazia temer pelo futuro. Nos tempos de estudante, quando caminhava pelas ruas arborizadas do bairro onde alugou o imóvel comercial e onde tem seu apartamento, não cogitava a possibilidade de transitar por ali, considerando aquela condição social acima de suas expectativas. Quase vinte anos mudaram drasticamente sua forma de ver o lugar e suas pretensões. 

Antes de visitar o sebo no centro da cidade, onde pretendia buscar inspiração para o café solicitado  pelo gerente de RH, parou no Parcão para aproveitar  a sombra e um banco solitário com vista para  a agitação dos que passavam por ali. Não tardou a aparecer uma velhinha simpática que pediu licença para partilhar o banco com ele. O sotaque carregado indicava duas possibilidades, ou vinha de alguma das colônias alemãs do interior do estado ou era mesmo estrangeira. Disposto a não se preocupar com o relógio, Caio contrariou o usual recolhimento e puxou conversa. Renie, um pouco constrangida, disso no pouco português de que dispunha, estar de passagem pela cidade, conhecendo as áreas verdes e os museus. 

Caio sentiu-se à vontade para contar os planos da tarde para Aunt Renie. Encontrar alguém que falasse inglês a fez sentir-se animada e a senhora manifestou interesse em visitar o sebo com o novo amigo assim que soube que ficava próximo de outro parque da cidade. Quando deu por si, Caio estava recebendo sugestões para o projeto da livraria e convidando a estrangeira desconhecida para conhecer seu escritório e precisou se esforçar para não convidá-la a se hospedar em seu apartamento.

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